18 de setembro de 2014

Uma no cravo, outra na canela

Quando ligo o primeiro canal
Sempre o anúncio do sabão tal
E se mudo para o segundo
Então é que é o fim do mundo

Os Táxi diziam-nos em 1981 aquilo que ainda hoje dizemos sobre a televisão em geral e os preços certos desta vida em particular: TVWC. Desconfiávamos da TV, reduzida a dois canais, que abriam e fechavam a horas certas, com hino nacional e mira técnica, a preto e branco - e assim se via a bandeira nacional e os equipamentos das equipas de futebol que tinham de contrastar, que o televisor a cores foi coisa que demorou a ser sintonizado. 
Mastigava-se e deitava-se fora, não era desta canção mas também servia para a televisão e todos arreganhávamos a taxa, paga na fatura da eletricidade (e sim, na altura, escrevíamos factura e electricidade, sem ganho algum). Felizmente tínhamos John Ford nas cobóiadas de sábado à tarde, telejornais de meia hora e telenovelas brasileiras de primeira água - em 1977, era pequenino, mas Gabriela foi especiaria que ficou. E por aí fora até Roque Santeiro, provavelmente a última novela que terei visto com conta, peso e medidas.
Hoje, só quando o zapping preguiça e o comando desaparece sob um espesso manto de pinypons e princesas, paro com tempo de qualidade em frente ao televisor à hora da novela (que em 1977 ou 1981 também era certinha e nos ajudava a acertar o relógio da cozinha e a interromper reuniões no Parlamento). A SIC, canal em que mais tropeço nesta longa hora de quatro horas, entala um enlatado de 5-cinco-5 novelas, entre portuguesas (duas) e brasileiras (três), contei esta quarta-feira à noite para efeitos de crónica e confirmei no guiatv da box. Palavra: cinco seriados, com doses generosas de entremeadas promoções e enlatadas publicidades. Caso para voltar aos Táxi
 
Quem vê TV
Sofre mais que no WC

ou talvez nem tanto. Em Lado a Lado ouvi um cuidado e uma qualidade na banda sonora que julgava afastados das novelas (que antes eram excelentes veículos de música popular brasileira). Em Amor à Vida espreitei algumas excelentes composições, de quem respira este género televisivo. Mas há mais: perdendo o fio à meada, com tanta meada partida e longa, sofre-se menos se olharmos as novelas noutra perspetiva mais lúdica, onde está a contemplação que vale a pena. Ou então esta viagem televisiva só serve para falar de Luana, 38 anos, brasileira de São Paulo. Já fez novelas, mas o vídeo é de outra Estrada de Damasco: a da sua própria revelação.


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