Lauren Bacall tinha 89 anos e os anos estavam lá, não se notavam recauchutamentos esticados. Na hora da morte, lembrou-se o olhar insolente, The Look, a beleza clássica: os epítetos soltaram para os teclados e as capas de jornais repetindo em palavras aquilo que saltava à vista nas fotos a preto e branco ou nos vídeos do You Tube. E ainda hoje podemos estremecer com aquela voz a dizer-nos You know how to whistle, don't you, Steve? You just put your lips together and... blow. Naquele instante somos todos Steve ou fazemos de conta que ela nos está a falar ao ouvido, mesmo que ela tenha chamado pelo Steve. De olhos fechados, só a voz teria o mesmo efeito.
Brinquemos aos clássicos: Ava Gardner, Greta Garbo, Marilyn Monroe, Ingrid Bergman ou Gene Tierney são deste mundo mesmo já não sendo deste mundo. Como Lauren. E sabemos dizer aquele instante cinéfilo, aquele olhar, aquela frase, que nos cativou. Hoje (atiram-nos depois os cinéfilos inveterados) já não se fazem atrizes assim. São politicamente corretos: querem eles dizer que já não se fazem mulheres no cinema como antigamente.
Desculpem-me as comparações. Daqui a muitos anos também olharão para outros instantes cinéfilos, outros olhares, outras frases, e todos nos renderemos nos teclados e nas capas de jornais. Como em Match Point, de Woody Allen, quando só ouvimos uma bola de pingue-pongue a bater na mesa e uma voz que acompanha o ritmo das jogadas. Rouca, grave, sensual, a voz revela-se depois. E todos nós queremos ser a next victim nesse jogo. Com Scarlett, 29 anos, americana de Nova Iorque. Um clássico, digo-vos.
Desculpem-me as comparações. Daqui a muitos anos também olharão para outros instantes cinéfilos, outros olhares, outras frases, e todos nos renderemos nos teclados e nas capas de jornais. Como em Match Point, de Woody Allen, quando só ouvimos uma bola de pingue-pongue a bater na mesa e uma voz que acompanha o ritmo das jogadas. Rouca, grave, sensual, a voz revela-se depois. E todos nós queremos ser a next victim nesse jogo. Com Scarlett, 29 anos, americana de Nova Iorque. Um clássico, digo-vos.
A intemporalidade do cinema e o que projectamos, de nós mesmos, naquilo que vemos.
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