16 de agosto de 2014

Xeque-mate


Kurt Meier apanhou um avião no meio do oceano Indico e desembarcou na Noruega. Kurt Meier nasceu na Alemanha há 67 anos, mas vivia nas Seychelles e jogava sob a bandeira do arquipélago nas Olimpíadas de Xadrez, que decorreram na Noruega. Kurt Meier disputava a última ronda contra o ruandês Alain Niyibizi quando caiu fulminado sobre o tabuleiro. A equipa médica tentou reanimá-lo durante meia-hora, sem sucesso. Morreu.
A morte no campeonato de Xadrez ocorre uma semana depois da Interpol ter emitido um alerta terrorista para a Noruega. Quando Kurt Meier tombou, a sala gritou, rasgou o silêncio que domina estas provas. Estavam cerca de mil jogadores no salão. Alguns confundiram os pedidos de ajuda com um ataque de fanáticos. Centenas largaram a guerra de tabuleiro e fugiram aos gritos procurando a saída mais próxima. Foi o caso da equipa feminina israelita.
Entre lágrimas e nervos, a maioria regressou depois ao Cavalo, ao Bispo, à Torre e aos peões (os primeiros a sacrificar em nome da defesa das figuras que contam), porque o jogo tem de continuar.
Horas depois, estas Olimpíadas de Xadrez ficavam marcadas por uma segunda morte. 
Alisher Anarkúlov nasceu no Uzbequistão há 46 anos e era surdo. O jogador fazia parte da selecção da Associação Internacional de Surdos. Foi encontrado morto no quarto no dia da última jornada do torneio. A polícia norueguesa diz que teve morte natural.
O Xadrez é um jogo perigoso. No tabuleiro, o jogo é de vida ou de morte. Tudo termina quando o rei é encurralado e trespassado, sem possibilidade de rendição. Para chegar ao regicídio é preciso ser ardiloso, dissimulado e conseguir adivinhar todas as movimentações do adversário. Xeque-mate!

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